Atualizado em 15/12/2023

A história da Peugeot no Brasil é marcada por altos e baixos, bem como acontece com sua irmã Citroën. Isso se deve ao fato de que as empresas se juntaram em 1991, formando o grupo PSA, e isso tem alinhamento direto com a abertura do mercado automotivo nacional para importações, que aconteceu em 1990. Apesar de já terem vendido modelos no Brasil, inclusive, o primeiro modelo da Peugeot foi comprado por Santos Dumont, inventor do avião, em 1891; foi só a partir de 1992 que a marca chegou oficialmente no país, trazendo uma série de modelos ao longo da próxima década, como o 106, 205, 306, 405 e a curiosa picape 504, a qual você provavelmente já viu em algum momento mas nem se lembra da existência.

A grande questão é que os modelos dessa época não eram encarados com tão maus olhos, isso levando em consideração que a marca era nova no mercado. Isso era amenizado pelo fato de que muita gente era nova no mercado, que havia sido aberto recentemente e experimentava uma enxurrada de novos concorrentes. A história começou a mudar nos anos 2000, conforme a marca ganhava mais clientes e seus primeiros produtos que chegaram por aqui começaram a ficar mais antigos.

Fato é que eles eram modelos bastante tecnológicos e o público brasileiro estava acostumado a usar o carro sem moderação ou cuidados com mecânica e elétrica, afinal, os modelos que estavam por aqui até então, como os Chevrolets e Volkswagens antigos aceitavam os desaforos e se dessem problema, eram simples de se resolver. Existia até aquela frase sobre qualquer um conseguir consertar um Fusca com um alicate e um arame.

Assim, a falta de manutenção dos modelos franceses dos anos 1990 começou a pesar contra os donos e o mercado começou a olhar para os modelos com outros olhos. A situação piorou quando começaram a acontecer os problemas com os câmbios automáticos de quatro marchas, os quais foram vendidos em larga escala nos modelos tanto da Peugeot quanto da Citroën.

Já fazem muitos anos que as marcas francesas não usam mais essa transmissão que deu tanta dor de cabeça tanto para muitos proprietários quanto para as montadoras, mas o mercado continua com receio em relação a esses modelos europeus. Fato é, porém, que as novas gerações dos carros são bastante robustos e não costumam apresentar problemas.

Além disso, a PSA se juntou com a FCA, grupo da Fiat, formando a Stellantis, uma gigante do setor, e possibilitando trocas de tecnologia entre as empresas, o que ajuda, também, no compartilhamento de peças. Se as pessoas ficam com o pé atrás de comprar um Peugeot, mesmo o modelos tendo muitos atrativos, por conta do receio em relação a mecânica (mesmo que o motores oferecidos estivessem em linha faz mais de uma década), quem sabe o fato de todo o conjunto mecânico ser de origem Fiat não pese na decisão de compra?

A Peugeot está retomando a participação de mercado que perdeu nos últimos anos, período em que estava passando por reformulações, juntamente com a fusão dos grupos empresariais. Talvez ela ainda ganhe mais mercado, mas é difícil dizer que a empresa irá chegar ao topo, como acontece na Europa, afinal, o 208 foi o modelo mais vendido do velho continente em 2022. Mesmo assim, a tendência é que ela ainda conquiste mais compradores nos próximos anos, conforme a confiabilidade dos conjuntos sejam mais e mais comprovadas. Se você é um dos que está pensando em levar um Peugeot para casa, vamos te contar tudo que você precisa saber sobre os cinco modelos da marca.

Peugeot 208

208

O 208 é o modelo mais vendido da Peugeot no Brasil e, por conta disso, anda recebendo uma atenção especial da marca francesa por aqui. O modelo tem um histórico um pouco complicado por conta de seus sucessores, afinal, o 206, 207 e a geração anterior do 208 foram equipados com o câmbio automático de quatro marchas que dava problemas.

Ele foi deixado de linha já na geração passada do 208, sendo substituído por um câmbio automático de seis marchas da Aisin, uma marca que pertence à Toyota e produz câmbios para montadoras como Volkswagen e Jeep. Atualmente, então, basicamente não há muito a ser dito em relação a problemas mecânicos no 208, o que resolve praticamente todos os problemas do modelo, que é muito competente em todos os outros aspectos.

Quando a atual geração chegou ao mercado, foi muito elogiada em termos de dinâmica, por ser um modelo muito acertado e estável, mas contava com o antigo motor 1.6 aspirado do grupo PSA, o qual ficava devendo na questão das acelerações. Esse era o único motor disponível para o 208 no lançamento e gerou muita frustração por conta da esperança do mercado de que o modelo chegasse com motorização turbinada.

O compartilhamento de tecnologia entre a PSA e a FCA deu bons frutos, e alguns anos depois chegou ao mercado o 208 equipado com o motor 1.0 três cilindros emprestado do Argo, fazendo muito sucesso por conta do custo-benefício. É fato que o modelo tem um nível de acabamento superior aos concorrentes, além de bastante tecnologia e diferenciais na categoria como o teto solar panorâmico.

A novidade mais recente, porém, foi o lançamento das versões equipadas com motor 1.0 turbo, o mesmo dos Fiats Pulse e do Fastback. Com ele, o 208 se tornou o mais rápido da categoria e a Peugeot finalmente entregou o que faltava no compacto, que era um motor mais competente do que o cansado 1.6 aspirado.

Atualmente, o Peugeot 208 é um dos melhores custos-benefícios da categoria de compactos, tanto nas versões 1.0 aspiradas quanto na 1.0 turbinadas. Como destaque, ele conta com uma excelente lista de equipamentos, design esportivo, acabamento diferenciado e bons números de desempenho e consumo, tendo como principal ponto negativo o espaço interno, que é bem pequeno. Se você pretende andar com passageiros no modelo, ele não é o ideal, afinal, dois adultos no banco traseiro já ficam muito perto um do outro, além do espaço para os joelhos não ser dos melhores; e uma viagem com três adultos no banco traseiro será totalmente desconfortável.

Peugeot 2008

2008

Ao contrário do que acontece com o 208, que anda recebendo um carinho especial da engenharia da Peugeot, o 2008 parou no tempo. É fato que, recentemente, o modelo recebeu um discreto facelift, no qual ganhou uma faixa preta na tampa do porta-malas, mas no geral o modelo é o mesmo desde 2015, quando foi lançado, e isso é péssimo, afinal, se o modelo nunca foi um sucesso de vendas quando estava atualizado, quem dirá atualmente.

Isso é mais grave ainda quando pensamos que ele está incluído no segmento de SUVs compactos, o qual está sempre mudando e se atualizando por conta da alta concorrência. Mesmo os modelos que estão na mesma geração a um tempo considerável, como o Jeep Renegade e o Volkswagen T-Cross, fazem questão de passar por eventuais alterações, às vezes com novidades visuais, novos motores ou mais equipamentos de série, mas nada disso acontece com o 2008.

Sabendo que não iria manter o modelo atualizado e, portanto, seria bem difícil fazer ele bater de frente com os concorrentes, a Peugeot decidiu reposicionar o modelo para a parte mais baixa da categoria, que é claramente dividida em dois hemisférios, sendo o mais baixo povoado pelos SUVs compactos menores como o Fiat Pulse e o Citroën C4 Cactus e mais baratos e o de cima ocupado por modelos como Hyundai Creta e Honda HR-V.

O 2008 é um dos dos SUVs compactos automáticos mais baratos, e essa parece ser a grande aposta da marca para convencer os clientes a comprarem o modelo, o que não está dando um resultado incrível, afinal, em 11 meses de 2023, o modelo emplacou apenas 1.614 unidades. Curiosamente, o melhor custo-benefício do modelo está na versão topo de linha, que é muito mais equipada e conta com motor turbo.

Enquanto as versões de entrada são equipadas com o cansado 1.6 aspirado da PSA, as versões mais caras contam com o 1.6 turbo THP, famoso motor que equipou praticamente toda a linha da Peugeot (e da Citroën) em algum momento, desde que surgiu por aqui em 2010, equipando o Peugeot 3008. Vale lembrar que esse motor foi lançado em 2004, e foi um projeto fruto da parceria entre a PSA e a BMW, tendo equipado alguns modelos da marca premium alemã.

Se você está de olho em um 2008, pense bastante na versão topo de linha, que conta com o motor turbinado e mais itens de segurança como seis airbags e controles eletrônicos de tração e estabilidade. Pelo preço cobrado por essa versão, é difícil encontrar algum modelo zero quilômetro que tenha um desempenho próximo, sem considerar, claro, o Citroën C3 Cactus, que conta com o mesmo motor 1.6 turbo.

Peugeot e-208

e-208

A versão elétrica do 208 faz muito sucesso na Europa, mas parece não ter colado muito bem por aqui. Fato é que o mercado nacional está se acostumando aos poucos com a ideia dos modelos elétricos e existem muitas questões a serem consideradas, como o fato da falta de infraestrutura, principalmente quando se pensa no interior do país, que é muito grande.

Por outro lado, essa temática só começou a ganhar notoriedade após algumas marcas começarem a trazerem seus modelos elétricos, como foi o caso da Peugeot, da Renault e de tantos outros. As coisas começaram a andar no sentido de melhorar essa situação justamente pelo fato de que a iniciativa começou a ser tomada.

Atualmente já existe muito mais conversa e preocupação em relação a isso, e inclusive os novos lançamentos e bons números de venda de marcas chinesas como BYD e GWM estão fazendo com que, mais do que nunca, essas questões precisem ser discutidas. Infelizmente para o e-208, ele sofre de um mal que recai na maioria dos modelos elétricos por aqui, que é o preço muito alto.

Se as marcas chinesas conseguem trazer seus modelos por preços extremamente competitivos, por conta das isenções de impostos (pelo menos por enquanto), a Peugeot e outras marcas não tiveram a mesma sorte, e seus modelos chegaram por aqui custando muito dinheiro. Vale lembrar, porém, que nem tudo é culpa dos impostos, e existe uma grande margem de lucro em cada veículo, afinal, só isso explicaria os grandes cortes de preço nos elétricos após a chegada dos modelos chineses.

O e-208, por exemplo, foi lançado por mais de R$ 270.000, e chegou a custar cerca de R$ 220.000, ou seja, cinquenta mil reais a menos. Mesmo custando esse preço, o modelo era um dos melhores custos-benefícios do mercado de elétricos, por conta de tudo que ele entrega e do preço que era cobrado, que era menor do que dos concorrentes como Chevrolet Bolt e Nissan Leaf.

Infelizmente para a Peugeot, atualmente o e-208 já não é um bom custo-benefício, visto que os chineses elétricos chegaram custando muito menos e oferecendo produtos equivalentes. Isso não quer dizer que o compacto elétrico francês seja um modelo ruim em termos de produto, muito pelo contrário. Mas é difícil justificar a aquisição dele.

Peugeot e-2008

e-2008

O e-2008 passa pelas mesmas dificuldades do irmão menor, e-208, afinal, apesar de ser um bom produto, ele cobra muito caro por isso. É curioso observar que, ao contrário do 208 e do e-208, que são o mesmo carro, porém com mudanças mecânicas e estruturais por conta de eletrificação, a diferença entre o 2008 vendido por aqui e o e-2008 são muito maiores.

Isso porque o e-2008 pertence a geração atual do SUV compacto, a qual foi esperada para o Brasil mas nunca chegou efetivamente, pelo menos nas versões à combustão. Se o modelo seria ou não competitivo frente aos tradicionais modelos da categoria como Jeep Renegade e Hyundai Creta, não é possível afirmar, mas definitivamente o modelo venderia mais do que a geração atual. Além disso, ficaria bem menos feio para a marca francesa, a qual ainda tenta vender a geração passada do 2008 mesmo ela estando totalmente defasada.

O e-2008 tem basicamente todos os predicados do e-208, com um bônus, que é o fato de que ele é bem espaçoso, resolvendo a maior questão da plataforma do atual 208, que é o fato de ele ser muito apertado por dentro. Por outro lado, o fato de o e-2008 ser maior tem seu preço, e o modelo custa consideravelmente mais do que o e-208, o que é um problema no atual mercado, afinal, o compacto já é muito caro e o SUV é mais ainda. Assim, fica difícil competir, por exemplo, com o BYD Dolphin ou GWM Ora 03, os quais custam muito menos e tem ótimos espaços internos.

Peugeot 3008

3008

O 3008 é um excelente carro para quem precisa de um modelo familiar, porém sempre foi meio esquecido no mercado e sofreu bastante com o preconceito que a marca sofre, o que é muito injusto, afinal, o modelo nunca foi equipado com aquele câmbio problemático.

Aliás, desde que foi lançado em 2010, o modelo conta com o mesmo motor 1.6 turbo e câmbio automático de seis marchas, o que nos aponta que, na realidade, o modelo é bem robusto. Ao contrário do que acontece quando se coloca esse motor em 208 e se tem um esportivo, como era o 208 GT, no 3008 a história é diferente, afinal, ele é um carro muito maior.

Seus bons números de potência e torque deixam o desempenho do SUV grande razoável, com acelerações de 0 a 100 km/h em cerca de dez segundos. Definitivamente ele não é um canhão, mas também não anda devagar, e, no final das contas, ele foi pensado para levar sua família do ponto A ao ponto B com muito conforto, segurança e estilo, e isso ele sempre conseguiu.

Principalmente na geração atual, uma coisa que chama muito a atenção no modelo é seu desenho externo, que é muito diferente do resto dos concorrentes. Deixando as polêmicas de lado, uma coisa é fato e é difícil encontrar alguém que discorde: a Peugeot sempre mandou muito bem quando o assunto é design, e aqui isso não é diferença.

Vale destacar ainda que o modelo é muito completo e o acabamento é excepcional, além do espaço interno que abriga com conforto três adultos no banco traseiro. O grande problema aqui é o fato de que o modelo custo um pouco caro, e a chegada dos novos concorrentes chineses balançou o mercado por conta do custo-benefício desses modelos como BYD Song Plus e GWM Haval H6.

Em uma breve análise apenas de motorização, a GWM oferece motorização híbrida de 393 cavalos e 77,7 kgfm de torque, aceleração de 0 a 100 em menos de 5 segundos e consumo de 25 km/l de gasolina na cidade por um preço menor do que a Peugeot cobra no 3008. Não que o 3008 seja ruim, mas frente aos concorrentes atuais ele não se destaca em termos de custo-benefício, o que é triste, afinal, ele é um excelente produto.

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