Atualizado em 15/12/2023

A Renault chegou no Brasil em 1998 e tem uma história muito rica por aqui, passando por algumas fases diferentes. Atualmente, a marca se encontra em uma situação de transição, na qual ela decidiu retirar seus produtos mais baratos de linha e substituir eles, no seu portfólio, por modelos mais sofisticados e caros.

Isso porque a empresa não estava sendo rentável nos últimos anos. Mesmo que vendesse bastante seus modelos como Kwid, Sandero e Logan, a marca não estava sendo lucrativa na relação de quantidade x preço. Assim, a reformulação tem como objetivo fazer com que a marca melhore os seus resultados apostando em vender uma menor quantidade de modelos com preços mais elevados.

Isso, porém, é um processo complicado por exigir uma reeducação do público em relação à marca francesa. É fato que, quando chegou por aqui, a Renault tinha muitos modelos bastante sofisticados, como o Renault Megane e o Scenic, mas com o passar dos anos a empresa viu que talvez esse não fosse o melhor caminho. Assim, trouxe para cá o Logan, que era um projeto de uma subsidiária romena chamada Dacia, e que apostava em ser um modelo espaçoso e barato de uma maneira geral, conquistando os clientes pelo custo-benefício.

Funcionou bem demais, e no ano seguinte a Renault trouxe o Sandero, que era a versão hatch do Logan e compartilhava os mesmos ideais do sedã. Eles rapidamente se tornaram os modelos mais vendidos da marca por aqui, e começou assim a construção da imagem da montadora francesa como vendedora de carros mais simples.

Mais para frente chegaram o SUV compacto Duster, para brigar com a Ford EcoSport, e o Kwid, modelo menor que o Sandero. Talvez por conta do fato de os produtos não serem tão rentáveis ou alguma outra decisão da gerência, a Renault decidiu não trazer para cá, porém, as novas gerações do Sandero e do Logan, fazendo com que os modelos ficassem muito defasados frente aos concorrentes e, por conta disso, perdessem, ano após ano, sua participação no mercado, o que teve um impacto direto, também, nos números obtidos pela própria Renault.

O foco da empresa, atualmente, é em modelos mais caros e completos, e muitas novidades estão sendo prometidas para os próximos anos. Existe, porém, uma barreira a ser quebrada, já que, historicamente, seus modelos mais caros não andam vendendo muito. Olhar exemplos como o Fluence e o Captur nos mostram que essa imagem de montadora de entrada que a Renault ganhou frente ao público geral complica bastante a vida dela, e ela terá que ganhar a força seu espaço dentro desses segmentos superiores, o que é algo, ao que parece, que a marca realmente pretende fazer, por conta dos investimentos em novidades, como uma nova motorização 1.0 turbo que deve chegar também em modelos da Nissan.

Mesmo que o processo de atualização da linha esteja acontecendo, a Renault ainda oferece seus antigos carros chefe para o público, e vamos falar um pouco deles para você.

Renault Kwid

Kwid

O Kwid é um dos carros mais baratos do país, apesar de a palavra barato talvez não se encaixar tão bem no contexto. O fato é que antigamente existia o conceito de carro popular e isso se perdeu com o tempo, por diversos motivos.

Atualmente, os carros precisam seguir muito mais normas em termos de lei, além de não existir mais aqueles modelos chamados de “básicos”, os quais não vinham com muito mais do que quatro rodas e um volante. Atualmente, todos os modelos vendidos no país contam com, ao menos, vidros elétricos dianteiros, ar-condicionado e direção com algum tipo de assistência, o que já é um grande avanço em termos de conforto, mas também eleva o preço dos modelos.

De qualquer forma, o Kwid chegou ao mercado para ocupar um segmento que havia sido criado fazia muito pouco tempo. O primeiro subcompacto lançado por aqui foi o Mobi, apesar de que já existiram outros sendo vendidos por aqui, como era o caso do Kia Picanto, porém vale lembrar que o modelo coreano se posicionava como um compacto premium, ou seja, era mais caro do que os compactos normais.

Essa categoria de subcompactos se posiciona abaixo dos compactos tanto em termos de preço quanto de qualidade de uma maneira geral. O objetivo é fazer um modelo bastante pequeno que consiga cumprir a tarefa de te levar do ponto A ao ponto B gastando pouco combustível e com algum conforto, e eles conseguem cumprir isso muito bem.

Se você levar em consideração que o Kwid é um dos modelos mais baratos do país, você não irá se decepcionar ao entrar nele. Isso porque, apesar de não ser um primor em termos de equipamentos, ele tem o básico para que você chegue no seu objetivo sem muito estresse, o que inclui um câmbio com bons engates, volante bem leve, ar-condicionado e um sistema de som para ouvir músicas. Por outro lado, se você espera desempenho ou luxo, esse definitivamente não é o carro para você.

Ele é pensado para quem quer algo prático para uso urbano, com motor econômico e fácil de estacionar. Se você é uma dessas pessoas, com certeza vai gostar do modelo.

Renault Stepway

Stepway

O nome Stepway surgiu logo depois do lançamento do Sandero e se tratava na denominação dada à versão com estilo aventureiro do modelo, a qual contava com suspensão mais alta, rodas maiores e lista de equipamentos mais completa, afinal, se tratava da versão topo de linha do modelo.

Com o passar do tempo, a linha do Sandero Stepway foi crescendo, e na nova geração do modelo, ele começou a se desprender do nome Sandero, se tornando apenas Stepway, apesar de ambos serem o mesmo carro. Isso começou justamente por conta de a Renault querer se desprender dos nomes mais conhecidos e tentar partir para um linha mais premium.

Com isso, ela subiu o preço do Stepway e tentou emplacar o modelo como algo diferente, o que obviamente não funcionou. As versões comuns do Sandero foram, uma a uma, sendo tiradas de linha, até o momento em que não existia mais nenhuma em linha, e a Renault, para tapar o buraco, lançou o Stepway com motorização 1.0 aspirada, que basicamente era o Sandero antigo com suspensão elevada e alguns detalhes estéticos diferentes.

Acontece que o modelo é o mesmo desde 2015 e não tem mais apelo para conquistar o público, que prefere levar para casa projetos mais novos como o Volkswagen Polo ou o Chevrolet Onix. Ser antigo não significa que o Stepway seja um carro ruim, mas sim apenas que está um pouco ultrapassado em termos tecnológicos e o desenho está cansado.

Por outro lado, o grande trunfo do modelo continua existindo, que é o espaço interno. Mesmo os concorrentes tendo se atualizado algumas vezes, é fato que o Stepway ainda é o modelo mais espaçoso da categoria, e seu porta-malas de 320 litros chama a atenção. Definitivamente, o aproveitamento de espaço do modelo é muito bem feito, afinal, por fora ele não é tão grande. Os motores 1.0 e 1.6, sempre aspirados, são bastante confiáveis e não existem relatos de problemas, além de fornecerem bons desempenhos, dadas as devidas proporções, claro.

Se você está pensando em comprar um compacto, porém, vale a pena levar em conta que outros modelos da concorrência têm um espaço razoável e são muito mais completos.

Renault Logan

Logan

Se você quer comprar um sedã compacto, esse não é, atualmente, o carro para você. É triste ver a situação em que o Logan está atualmente, ainda mais se pensarmos sobre o tamanho da importância dele para o mercado de sedãs compactos.

Isso porque até a chegada dele, era muito difícil para a maioria das pessoas terem um carro realmente espaçoso. Mesmo os sedãs médios como Toyota Corolla e Honda Civic não eram grandes coisas em termos de espaço, e se você tinha uma família com grande estatura, precisava apelar para modelos muito caros se quisesse que todo mundo coubesse sem apertos. A situação mudou quando o Logan chegou, afinal, o modelo oferecia um excelente espaço interno, mas custava o mesmo preço de outros sedãs compactos, mesmo eles sendo bem pequenos.

Foi a partir daí que os compactos começaram a crescer de tamanho, e o Logan ganhou concorrentes como o Chevrolet Cobalt e o Nissan Versa. O processo de crescimento dos sedãs continuou acontecendo, porém o Logan parou no tempo depois do lançamento da segunda geração, em 2013. Basicamente ele é o mesmo carro há uma década, e isso fez com que, ano após ano, ele perdesse mercado, além de ver suas versões mais completas sendo descontinuadas. Atualmente, só existem duas versões, ambas com motorização 1.0 aspirada e que custam um valor muito alto pelo que oferecem, visto que, com o mesmo valor, é possível comprar concorrentes com motores bem mais potentes e câmbio automático, como é o caso do Fiat Cronos e do Toyota Yaris Sedan.

Atualmente, não faltam exemplos de sedãs compactos espaçosos, como por exemplo o Chevrolet Onix Plus, Nissan Versa, Volkswagen Virtus, Honda City, etc, e tudo isso começou com o Logan, em 2007. Por conta disso, ver como a Renault abandonou o modelo sem atualizações ao longo do tempo, o deixando perder todo o mercado que havia conquistado e se tornando um péssimo custo-benefício, ainda mais considerando que esse sempre foi seu trunfo, é um tanto triste. Se você está de olho em um sedã compacto, então, o melhor a se fazer é visitar as concessionárias concorrentes, afinal, não vai ser difícil encontrar um modelo que valha mais a pena.

Renault Oroch

Oroch

A Oroch foi uma inovação da Renault que não deu muito certo, mas vale ressaltar que a ideia era bastante boa. Acontece que, ao longo dos anos, as picapes médias como Toyota Hilux e Chevrolet S10 ganharam muito tamanho e se distanciaram das picapes pequenas como Fiat Strada e Volkswagen Saveiro, criando um grande vão no mercado.

Muitas pessoas acham que a primeira marca a aproveitar esse nicho e lançar um modelo para ocupá-lo foi a Fiat com a Toro, mas isso não é verdade. A verdade é que um ano antes do lançamento da picape italiana, a Renault já havia lançado a Oroch, que é a versão picape do SUV compacto Duster, mas ela nunca fez muito sucesso. Isso piorou ainda mais quando a Fiat lançou a Toro, a qual se tornou um grande sucesso de vendas.

É fato que a Toro, de uma maneira geral, era um carro superior, com motorização diesel, tração nas quatro rodas e derivação do Jeep Renegade, enquanto a Oroch era basicamente o Duster de primeira geração (Renegade era bem mais moderno) sem a opção da tração nas quatro rodas. Porém, é fato que a Oroch tinha seus encantos, sendo prejudicada, majoritariamente, pelo fato de que a Renault tentou, em um primeiro momento, fazer a picape bater de frente com a Toro, e isso teve implicações muito fortes em todo o futuro da Oroch.

Atualmente, a picape é melhor do que quando foi lançada. O motor 2.0 aspirado e o câmbio automático de quatro marchas deram lugar ao 1.3 turbo de origem Mercedes-Benz e câmbio automático do tipo CVT na versão mais cara, resolvendo muitas das críticas feitas ao modelo em relação a desempenho e consumo. Além disso, ela foi reposicionada como um produto inferior à Toro, como ela realmente é, custando mais barato do que a concorrente italiana.

Fato é, porém, que a Oroch nunca conseguiu ter muito apelo de público. Quando se pensa em picape para trabalho, a maioria da pessoas prefere levar para casa uma Fiat Strada, e se o objetivo for lazer, muita gente escolhe a Fiat Toro, mesmo sendo um pouco mais cara, mas também é um produto melhor e mais valorizado, ou a recém chegada Chevrolet Montana, muito mais moderna e cheia de truques para aumentar a sua praticidade no dia-a-dia. De fato, por ser um modelo baseado no Duster antes da última mudança, é difícil indicar a compra da picape francesa, afinal, quaisquer que sejam seus objetivos, você consegue encontrar algum concorrente que entregue mais.

Renault Duster

Duster

O Duster, assim como o Logan, tem uma história muito importante por aqui. Ao contrário do que acontece no irmão sedã compacto, porém, a Renault ainda tenta dar atenção ao modelo, fazendo algumas mudanças pontuais nele, e não o abandonado ao tempo como no outro caso.

É esperada, inclusive, uma mudança próxima para o modelo, na qual ele deve ganhar faróis de LED e seis airbags, o que vai ajudar no principal pênalti do modelo, que é a segurança, visto que, atualmente, ele conta com apenas duas bolsas para segurança dos ocupantes em caso de acidente. Essa atenção a mais que a Renault dá ao modelo deve-se justamente ao fato de que ele está inserido no segmento que mais ganha mercado no Brasil, e isso não é de hoje.

A Renault já teve essa visão muitos anos atrás, quando o segmento de SUVs compactos tinha apenas o Ford EcoSport como único representante. Em 2011, quase uma década depois do modelo americano chegar ao mercado brasileiro, a Renault lançou o Duster, seguindo a mesma lógica dos irmãos Logan e Sandero, e fez muito sucesso, rapidamente desbancando o líder anterior e travando uma bela briga em números de vendas, principalmente após a atualização do EcoSport, em 2013.

O grande problema para esses dois veteranos foi que a partir de 2015 um monte de marcas decidiram entrar na brincadeira, e surgiram muitos modelos como Jeep Renegade, Honda HR-V, Nissan Kicks, Hyundai Creta, Chevrolet Tracker, Volkswagen T-Cross, etc, e os antigos concorrentes da Renault e da Ford foram perdendo espaço, pouco a pouco, para esses novos modelos. EcoSport, inclusive, nem é vendido mais, tendo saído de linha naquele processo de fechamento da produção nacional da Ford.

Por outro lado, o Duster continua por aqui, e volta e meia recebe alguma mudança para se manter atualizado, na medida do possível, até a chegada da nova geração, esperada para os próximos anos. Recentemente ele passou por uma mudança boa, com alterações exteriores e um novo interior muito mais moderno, incluindo itens com ar-condicionado automático e chave presencial (aquele clássico cartão que a Renault usa desde o Megane). Ainda, ganhou opção do motor 1.3 turbo desenvolvido em parceria com a Mercedes-Benz e que é um dos melhores do mercado.

O Duster ainda tem seu maior trunfo, que é o espaço interno, afinal, a maioria dos SUVs compactos do hemisfério de baixo do segmento, como Fiat Pulse, Volkswagen Nivus, Citroën C4 Cactus, etc, são bastante apertados. Por outro lado, o modelo fica devendo muito na modernidade e na segurança, afinal, o modelo da Volkswagen possui nota máxima nos testes de segurança, enquanto o Renault oferece só o que a lei obriga, ao menos por enquanto, afinal, novos equipamentos devem entrar na lista do modelo em breve.

Para quem precisa de um modelo espaçoso e não quer gastar muito, o Duster pode sim ser uma solução. Vale lembrar, porém, que em breve chega ao mercado o Citroën C3 Aircross, com um projeto mais moderno e bastante espaço interno, inclusive a opção de sete lugares, além do bom motor 1.0 turbo de origem Fiat. Talvez valha a pena esperar esse modelo chegar às lojas para comparar os dois SUVs compactos e ver qual se encaixa melhor nas suas demandas.

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