A Chevrolet Tracker é um dos SUVs compactos mais vendidos do mercado e, curiosamente, é também um dos representantes mais antigos dessa categoria no país, com mais de duas décadas de história e três gerações com estilos completamente diferentes.
Se puxarmos na memória, lembraremos que a Tracker teve sua primeira geração apresentada ao Brasil em 2001, e se tratava de um SUV pequeno, com tração nas quatro rodas e motorização a diesel. Nessa época, a proposta não era nenhum pouco urbana, mas sim o fora de estrada, o que ficava claro quando olhávamos para o espaço interno muito reduzido e a simplicidade em diversos aspectos. Alguns anos depois, com o lançamento do EcoSport, a Chevrolet viu um nicho interessante a ser explorado e fez mudanças no Tracker, sendo a principal a saída do motor a diesel e substituição pelo mesmo 2.0 8v aspirado que equipava outros modelos da linha.
Essa mudança tinha implicações claras, afinal, ele ganhou muitos cavalos de potência e perdeu torque. Isso deixou ele mais agradável e eficiente para o uso em ambientes urbanos e rodoviários, melhorou suas acelerações e velocidade final, mas foi uma grande rachadura no espírito aventureiro do modelo. Ao menos, ele ainda mantinha a tração 4x4, o que o fazia bater de frente com a versão topo de linha do EcoSport e com a Mitsubishi TR4.
Essa geração durou até 2009, quando deu adeus ao mercado, voltando em 2013 totalmente renovado e diferente do que era antes. A proposta da primeira geração do modelo era ser um carro de fora-de-estrada, que foi caindo em desuso e havia sido enfraquecida com a adoção do motor movido a gasolina. A segunda geração, porém, chegou totalmente voltada para o uso urbano, buscando suprir demandas novas que surgiram no público. Apesar dessa geração ter a mesma plataforma do Onix, ele trazia não só o motor do Cruze debaixo do capô, como também tinha uma lista de equipamentos bem parecida.
Ou seja, mesmo que sua base fosse o Onix, ele tentava se posicionar como um SUV do Cruze. Considerando que, quando lançado, seus únicos concorrentes eram o Ford EcoSport e o Renault Duster, esse refino a mais no modelo fazia ele ser uma opção muito interessante para quem tinha claro na cabeça que queria um SUV compacto urbano. Os outros dois modelos ainda apostavam em suas capacidades de andar na terra e no visual robusto e aventureiro que ainda era a prioridade do público, enquanto o Tracker, apesar de ser um SUV, tinha pouca altura em relação ao solo e usava grandes rodas de 18 polegadas com pneus de perfil baixo, que deixavam o visual elegante, mas que mostrava claramente que ele não tinha qualquer pretensão aventureira.
Talvez o grande problema dessa geração da Tracker tenha sido que ela chegou muito cedo no mercado, então seu estilo de SUV urbano ainda não era tão desejado pelo público quando alguns anos depois, por volta de 2016. Nesse ano, modelos como o Honda HR-V e o Nissan Kicks mostravam que para conquistar o público você não precisava ter qualquer aptidão nem aparência aventureira, ideia oposta à pregada pelo Jeep Renegade, que apostava suas fichas nisso. No meio dessas várias novidades, a segunda geração da Tracker, já com alguns anos de mercado, não conseguia se destacar, e foi vendendo pouco até sair de linha em 2020.
No mesmo ano surgiu a terceira e atual geração da Tracker, que de cara já virou um grande sucesso de vendas. Curiosamente, algo que funcionou muito bem para o modelo foi abandonar qualquer pretensão de se aproximar do Cruze, como ele tanto tentava na segunda geração, e assumir claramente que ele é um Onix em carroceria SUV. Considerando que o compacto sempre foi um grande sucesso de vendas, ter seu nome associado a ele não parece ser uma ideia tão ruim assim, e os números atuais de venda da Tracker mostram que a Chevrolet não poderia ter tomado uma decisão melhor do que essa.
Em 2023, por exemplo, a marca americana conseguiu emplacar quase 67.000 unidades da Tracker, o que colocou ela em segundo no ranking de vendas da categoria de SUVs compactos, ficando atrás apenas do Volkswagen T-Cross, com cerca de 72.000 unidades vendidas.
Nos próximos anos, são esperadas mudanças na linha Onix e Onix Plus, afinal, os modelos lançados em 2019 estão começando a dever alguns itens de série em relação a concorrentes mais atualizados, e possivelmente a Tracker, um pouco depois, deve ganhar atualização para, também, conseguir bater de frente com os concorrentes. Itens como painel digital e piloto automático adaptativo, equipamentos já apresentados em outro modelo da linha, a Chevrolet Spin, devem chegar no SUV compacto em breve, junto com alguns retoques no visual do modelo.
Será, então, que vale a pena levar para casa uma Tracker 2025? É o que vamos tentar te responder!
Como dito, a segunda geração da Tracker usava o mesmo conjunto mecânico do Cruze, diferente da atual geração, que compartilha a mesma motorização do Onix, ao menos nas versões de entradas. Isso porque elas são equipadas como o motor 1.0 turbo com injeção indireta de combustível que gera 116 cavalos e 16,8 kgfm de torque associado a um câmbio automático de seis marchas. Se você achar pouco, existem, ainda, configurações mais caras que trazem, debaixo do capô, um motor 1.2 turbo de 133 cavalos e 21,4 kgfm de torque, associados ao mesmo câmbio automático de seis marchas.
Apesar dos números modestos, o motor 1.2 turbo da Tracker tem bom rendimento.
O desempenho da Tracker não é nada empolgante, mas também não faz feio em nenhuma das motorizações. É claro que se você encher o SUV com bagagens e passageiros, não podemos esperar grandes acelerações do motor 1.0 turbo do modelo, que não é dos mais potentes da categoria.
Só com o motorista, o modelo acelera de 0 a 100 km/h em 10,9 segundos, que começam com uma boa arrancada, mas perdem ritmo conforme o modelo ganha velocidade. Assim, a condução urbana é muito agradável e ágil, com boas saídas de semáforo e rapidez para entrar ou atravessar vias movimentadas. Ao pegar a rodovia com o modelo, porém, o motorista deve ficar atento, pois o desempenho não vai ser tão bom.
O consumo não é dos melhores e difere bastante do que encontramos no Onix, que por muitos anos foi o carro mais econômico do país. É fato que o modelo é um pouco maior e mais pesado, mas as médias de 7,7 km/l na cidade e 9,5 km/l na estrada com etanol; e 11,2 km/l na cidade e 13,4 km/l na estrada com gasolina; poderiam ser maiores.
A história fica diferente quando o assunto é as versões com motor 1.2 turbo. Apesar de o motor não ter tanta potência a mais, nominalmente, a Tracker mais potente acelera com muito mais vontade. O torque a mais garante ainda mais agilidade no uso urbano, e os quase 20 cavalos fazem muita diferença no uso rodoviário, levando o modelo a acelerar de 0 a 100 km/h em 9,4 segundos, valor mais competitivo em relação a alguns concorrentes. Mesmo com o carro carregado, as ultrapassagens e retomadas serão feitas com muito mais segurança a bordo de um Tracker com motor 1.2.
Curiosamente, o desempenho consideravelmente melhor não piora tanto o consumo em relação às versões 1.0 turbo. Por aqui, as médias ficam em torno de 7,2 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada com etanol; e 10,4 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada com gasolina.
As versões com motor 1.2 unem agilidade na cidade e boas acelerações na estrada.
O espaço interno da Tracker não é nada demais. Apesar de dar a impressão de ser um pouco maior do que o que encontramos no Onix, ainda não chega na quantidade de espaço oferecida, por exemplo, por um Hyundai Creta ou Volkswagen T-Cross. O ideal aqui é que até duas pessoas viagem no banco traseiro, situação essa na qual os dois irão confortavelmente alocados, com bom espaço para pernas, ombros e cabeça. Se sua ideia é andar frequentemente com três adultos no banco traseiro, por outro lado, a situação não vai ser tão agradável, já que irá faltar espaço, principalmente lateralmente, resultando em ombros apertados e, possivelmente, pernas encostadas.
O espaço traseiro é adequado para a categoria, mas três adultos viajam apertados.
Ao menos o porta-malas cumpre bem seu papel. Não que 393 litros sejam um tamanho grande, mas coloca ele no meio termo da categoria. No geral, o modelo não vai te deixar na mão e se você é uma pessoa moderada em relação a bagagens, será mais do que o suficiente para carregar tudo o que precisar.
As bagagens de uma família são facilmente encaixadas nos 393 litros de porta-malas.
Um ponto curioso a se ressaltar é que o modelo é bastante confortável em termos de suspensão, característica da Chevrolet que parece ter perdido um pouco de força na linha Onix, com um acerto de suspensão um pouco mais rígido. Andar na Tracker não é tão confortável quanto um Jeep Renegade, mas também não é tão rígido quanto, por exemplo, o que encontramos em um Volkswagen Nivus.
A Chevrolet continua oferecendo uma versão básica para tentar buscar clientes que estavam pensando em SUVs mais baratos, como o Fiat Pulse, por exemplo. Portanto, se você busca pelo Tracker mais acessível de todos, esse pode ser o seu carro ideal.
Como já foi antecipado, segurança já é uma prioridade desde a versão de entrada, então ela já conta com 6 airbags, controle de tração e estabilidade, nota máxima no teste de colisão e limpador do vidro traseiro.
Quando passamos para o conforto, também encontramos um conjunto de equipamentos bastante competente, com assento traseiro rebatível para ampliar seu espaço de bagagem, transmissão automática com piloto automático, direção elétrica, comando elétrico dos vidros dianteiros e traseiros, para-sol com espelho e iluminação tanto para o piloto quando para o passageiro, ar-condicionado com ajuste manual de temperatura e velocidade, ajuste de profundidade e altura do volante multifuncional, ajuste de altura do banco do motorista, descansa braço central dianteiro, ajuste elétrico dos retrovisores, destravamento interno e remoto do porta-malas, destravamento interno do tanque de combustível, alarme, chave presencial para abertura, fechamento e partida do veículo, acendimento automático dos faróis, computador de bordo e câmera de ré.
Até aqui, nos parece um pacote bem interessante para uma versão de entrada, ainda mais quando adicionamos a central multimídia com tela touchscreen de 8 polegadas, com rádio am/fm, integração Apple Play e Android Auto sem necessidade de fios, conexão bluetooth e USB e um sistema de som com conjunto de 4 alto falantes.
Vale ainda ressaltar que essa versão conta com retrovisores externos pretos, maçanetas externas na cor do veículo e rodas de aço de 16 polegadas com calotas integrais.
O câmbio automático é item de série na linha 2025 da Tracker.
Mesmo com uma versão de entrada super completa, alguns pontos podem ter te chamado a atenção, como por exemplo a ausência de rodas de liga-leve. Mas não se preocupe, a versão LT pode te atender.
Aqui, temos tudo o que a versão anterior oferece, contendo ainda retrovisores externos na cor do veículo, rodas de aço de 17 polegadas, sensor de estacionamento traseiro, entrada USB para o banco traseiro e um upgrade no sistema de som, saindo de 4 e indo para 6 alto falantes.
A Tracker fica devendo faróis de LED em todas as versões.
Se você é daqueles mais exigentes, inclusive em relação à segurança, a versão LTZ é o seu número, pois apesar da ótima segurança desde a versão de entrada, recursos de condução semi-autônoma ainda estavam faltando.
A versão LTZ traz tudo o que a versão anterior oferece, mas conta também com alerta de colisão frontal, frenagem autônoma urbana, alerta de ponto cego, rodas com um desenho exclusivo com as mesmas 17 polegadas e bancos parcialmente revestidos em couro e volante revestido em couro.
A versão LTZ é a primeira a contar com recursos de condução semiautônoma.
Chegamos então ao ponto de partida para quem não abre mão de um motor mais potente. Também como uma novidade da linha 2024, a versão RS traz esportividade embaixo do capô e no visual.
A versão esportiva traz todos os equipamentos da versão LTZ e ainda entrega, claro, o motor 1.2 turbo, bancos exclusivos totalmente em couro, volante esportivo revestido em couro, faróis em LED com máscara negra, lanterna traseira em LED, teto solar panorâmico, retrovisores externos em preto "High Gloss", detalhes em preto nos para choques, grade dianteira esportiva estilo colmeia com detalhes em preto "High Gloss" e rodas de liga-leve de 17 polegadas pretas exclusivas.
O pacote RS deixa o visual da Tracker muito mais agressivo.
Além das mudanças estéticas, o pacote RS adiciona itens de série como teto solar panorâmico.
Por fim, se nada até aqui fez sentido para você, talvez seja a hora de dar uma chance para a versão topo de linha do Tracker 2024.
A Premier, conta com todos os equipamentos da versão esportiva RS, deixando de lado os itens de design, como retrovisor preto, detalhes pretos nos para-choques, grade dianteira esportiva estilo colmeia e a máscara negra nos faróis dianteiros, que continuam com projetores em LED, ganhando ainda ar-condicionado com controle automático de temperatura, bancos em couro, carregador de smartphone sem fio, sensores de estacionamento dianteira e laterais para auxiliar o sistema de estacionamento automático, espelho retrovisor interno anti-ofuscante, monitoramento de pressão dos pneus e sensor de chuva.
A versão Premier tem uma cara mais pacata, mas é, de longe, a versão mais completa da linha 2025.
No final das contas, a Tracker é uma ótima opção para quem está de olho em um carro muito equilibrado, com bom nível de conforto, desempenho, consumo e lista de equipamentos.
Se seu foco é esse, então levar o SUV americano para casa faz sentido. Tenha em mente, porém, que nos próximos anos o modelo deve passar por atualizações, o que irá desvalorizar as unidades da geração atual. Se seu plano é ficar bastante tempo com o carro, essa desvalorização deixa de ser tão relevante, mas se o plano é trocar o modelo daqui a dois ou três anos, talvez olhar outros concorrentes que foram atualizados recentemente não seja uma má ideia.